Eu Só Peço a Deus

Racismo estrutural e resistência em “Eu Só Peço a Deus”

A música “Eu Só Peço a Deus”, do Inquérito, faz uma ligação direta entre a escravidão do passado e as injustiças sociais e raciais do Brasil atual, usando imagens fortes e críticas contundentes. No verso “vocês descobriram o Brasil, né? Conta outra Cabral”, a letra ironiza a narrativa oficial da história brasileira, questionando a celebração de figuras como Cabral e os bandeirantes, que dão nome a rodovias, mas também representam violência e opressão. O videoclipe reforça essa crítica ao mostrar a fuga de um escravizado e sua luta para libertar familiares, criando um paralelo visual entre o açoite do passado e a violência policial que atinge a juventude negra nas periferias, como destaca Renan Inquérito.

A canção também denuncia a superficialidade das políticas públicas, como em “Tira os pobre do centro, faz um cartão postal / É o governo trampando, Photoshop social”, apontando que muitas ações apenas maquiam a desigualdade sem resolvê-la. O verso “preconceito racial mais profundo que o Pré-Sal” mostra que o racismo é estrutural e está profundamente enraizado na sociedade brasileira. Ao abordar a miscigenação e afirmar “quem não tem sangue de preto na veia deve ter na mão”, a música evidencia que a história do Brasil é marcada pela presença negra, seja no corpo ou nas marcas da escravidão. O tom crítico e reflexivo, junto à referência à canção “Malandragem” de Cássia Eller, reforça a postura de resistência e questionamento típica do rap, convidando o ouvinte a enxergar as continuidades entre passado e presente na luta contra o racismo e a desigualdade.