Estilos musicais brasileiros: os 6 principais gêneros do país

História da música · Por Dora Guerra

16 de Maio de 2020, às 19:00


Vamos começar esse texto com uma afirmação importante: não existe nada como a música brasileira.

Poucos países podem ser orgulhar de ter uma história musical tão incrível, que influenciou o resto do mundo, como a do Brasil.

Roda de Samba do artista Carybé / Créditos: Divulgação

Pensa com a gente: de Tom e Vinícius ao Clube da Esquina, passando por Cartola, Gonzaguinha, Elis Regina, Tião Carreiro e Pardinho… Quantos artistas e estilos incríveis existem na nossa terra!

Esse é o nosso papo de hoje — vamos falar um pouco dos estilos musicais que mais marcaram o Brasil nos últimos tempos, além de seus principais nomes. Vem ver! 

Estilos musicais brasileiros

Talvez um fator importante tenha sido a mescla de culturas que formaram o nosso país: com os ritmos e cantos africanos, as músicas eruditas europeias e até os ritos tradicionais indígenas, a história da nossa música já começou cheia de influências. 

Outra coisa que pode ter estimulado a diversidade de estilos é a própria diversidade de paisagens, afinal o campo pede uma trilha sonora um pouco diferente da praia, que pede uma trilha diferente da caatinga, né?

Caatinga
Caatinga / Créditos: Divulgação

Fato é que existem vários estilos musicais no Brasil, alguns adaptados de tendências lá fora e outros bem a cara da nossa terra. Como não teria espaço no nosso texto para listar tooooodos os estilos, selecionamos os 6 principais:

Sertanejo

O sertanejo é um dos gêneros mais populares e influentes no Brasil, com uma história que remonta ao início do século XX e que continua a evoluir até os dias de hoje.

Nascido no campo, o sertanejo expressa as tradições, vivências e sentimentos da vida rural, e se tornou uma das mais autênticas formas de expressão da cultura brasileira.

Sua origem está diretamente ligada à música caipira, um gênero musical que surgiu no interior do Brasil, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, no início do século XX.

Com forte influência da música tradicional portuguesa, incluindo os modinhas e os desafios, a música caipira trazia temas relacionados ao cotidiano no campo, como o trabalho agrícola, a vida no sertão, as dificuldades da lida com a terra e, claro, o amor e a religiosidade.

Um dos marcos iniciais do gênero foi a gravação de Jorginho do Sertão em 1929, por Cornélio Pires, considerado um dos pioneiros da música sertaneja. Nos anos seguintes, artistas como Tonico e Tinoco e Alvarenga e Ranchinho consolidaram o sertanejo caipira, também conhecido como sertanejo raiz.

Com o passar das décadas, o sertanejo passou por diversas transformações, se adaptando aos gostos do público urbano e incorporando elementos de outros estilos musicais. Essa evolução pode ser dividida em algumas fases importantes:

  • Sertanejo Raiz: representado por duplas como Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho e Liu e Léu, o sertanejo raiz é caracterizado pelo uso da viola caipira e por letras que falavam sobre a vida no campo, boiadas e festas tradicionais.
  • Sertanejo Romântico: a partir dos anos 1980, o sertanejo ganhou um tom mais romântico e urbano. As letras começaram a abordar temas como amor e relacionamentos, se distanciando um pouco das narrativas rurais. Duplas como Chitãozinho e Xororó, Zezé Di Camargo e Luciano e Leandro e Leonardo foram os grandes representantes dessa fase, popularizando o sertanejo em rádios e programas de televisão de todo o Brasil.
  • Sertanejo Universitário: nos anos 2000, uma nova geração de artistas começou a surgir, trazendo uma linguagem ainda mais jovem e moderna para o gênero. Essa vertente é marcada pela fusão com outros gêneros, como o pop, o arrocha e até mesmo o funk. As letras, muitas vezes, falam sobre festas, diversão e relacionamentos casuais, refletindo o estilo de vida da juventude. Jorge e Mateus, Gusttavo Lima, Luan Santana e Marília Mendonça são alguns dos principais nomes dessa fase, sendo responsáveis por transformar o sertanejo no estilo mais ouvido no Brasil.

Samba

Um dos gêneros musicais mais icônicos do país, o samba representa a essência da cultura popular do país e se tornou um dos principais símbolos da identidade nacional.

Nascido a partir de uma fusão de ritmos africanos com influências europeias e indígenas, o samba ganhou forma no início do século XX e se desenvolveu ao longo dos anos, com diversas vertentes e grandes representantes.

Inicialmente, o samba era associado às rodas de batuque e dança praticadas pelos negros em comunidades periféricas, como a região da Pequena África, no Rio de Janeiro.

A primeira gravação considerada oficial do gênero foi o samba Pelo Telefone, de Donga e Mauro de Almeida, em 1916. A partir daí, o samba começou a ser visto como uma forma legítima de expressão musical, sendo absorvido e adaptado por diferentes classes sociais e regiões do Brasil.

Ao longo das décadas, o samba evoluiu e se desdobrou em várias vertentes, cada uma com suas particularidades, mas mantendo as raízes e a essência do gênero.

  • Samba de Roda: considerado uma das formas mais tradicionais do samba, o samba de roda é originário da Bahia e está fortemente ligado às celebrações populares e religiosas. Ele se destaca pelo uso de instrumentos de percussão e pela dança em roda, além de possuir forte influência da capoeira.
  • Samba-Enredo: essa vertente se popularizou principalmente nas escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo. O samba-enredo é criado especialmente para ser apresentado nos desfiles de Carnaval, com letras que contam histórias ou abordam temas culturais, históricos e sociais.
  • Samba-Canção: o samba-canção trouxe um tom mais melódico e sentimental ao gênero, sendo um precursor da Bossa Nova. O samba-canção é conhecido por suas letras mais românticas e por um ritmo mais cadenciado. Nomes como Dolores Duran e Maysa são expoentes dessa fase.
  • Samba de Partido Alto: o partido alto é uma forma de samba mais rítmica e improvisada, com versos criados em roda, o que facilita a interação entre os participantes. Grandes nomes desse estilo incluem Zeca Pagodinho e Jovelina Pérola Negra.
  • Pagode: surgido nos anos 1980, o pagode é uma vertente mais comercial do samba, com arranjos mais modernos e letras que tratam do cotidiano, festas e relacionamentos. Grupos como Fundo de Quintal, Exaltasamba e Soweto ajudaram a popularizar o pagode, que fez grande sucesso principalmente nas décadas de 90 e 2000.

Bossa Nova

Reconhecida mundialmente por sua sofisticação melódica e rítmica, a bossa nova surgiu no final da década de 50 e revolucionou a música brasileira ao misturar elementos do samba tradicional com influências do jazz.

Além de ser um marco cultural, a bossa nova foi uma das principais responsáveis pela projeção internacional da música brasileira, levando artistas como João Gilberto e Tom Jobim a serem aclamados fora do país.

O termo “bossa nova” significa literalmente “novo jeito” ou “nova onda”, e foi adotado para descrever essa nova abordagem musical. A canção Chega de Saudade, composta por Tom Jobim e Vinicius de Moraes e interpretada por João Gilberto em 1958, é considerada o marco inicial da bossa nova.

Essa música trouxe um estilo de tocar violão que viria a ser característico do gênero: a batida suave, quase percussiva, combinada com uma voz mais baixa e intimista, criando uma atmosfera de intimidade e leveza.

MPB

A Música Popular Brasileira, conhecida como MPB, é um dos gêneros mais importantes e diversificados do cenário musical do Brasil.

Ela surgiu nos anos 60 como uma evolução da Bossa Nova e foi influenciada pela mistura de ritmos tradicionais brasileiros, como o samba, com influências internacionais do jazz e da música folk.

A MPB é marcada por letras que frequentemente abordam temas políticos, sociais e culturais, refletindo o contexto do Brasil em momentos de grandes mudanças.

O gênero teve um papel importante durante o período da ditadura militar no Brasil, quando vários artistas usaram suas canções como forma de protesto e resistência política.

Canções de artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento ganharam grande popularidade, muitas vezes com letras que, através de metáforas, criticavam o regime autoritário.

Atualmente, a MPB continua a evoluir com novas gerações de artistas que trazem suas próprias interpretações e influências ao gênero.

Cantores como Marisa Monte, Maria Gadú e Anavitória são exemplos de artistas contemporâneos que mantêm viva a tradição da MPB, ao mesmo tempo que exploram novos sons e fusões musicais.

Choro

Um dos estilos musicais mais antigos e tradicionais do Brasil, o choro surgiu no final do século XIX, no Rio de Janeiro.

Apesar de seu nome sugerir algo melancólico, o choro é conhecido por sua complexidade técnica, ritmo alegre e harmonias sofisticadas. Ele combina elementos europeus, como a polca, o lundu e a valsa, com influências africanas, resultando em um estilo que tem um papel fundamental na identidade musical brasileira.

Nos primeiros anos, o estilo era tocado em festas e saraus por músicos chamados de “chorões”. Esses instrumentistas eram frequentemente de origem popular e adaptavam estilos musicais europeus às suas formas de expressão.

Os instrumentos mais comuns no choro incluem o violão, o cavaquinho, e o bandolim, além de flautas e pandeiros, que adicionam o toque percussivo típico do gênero.

O estilo influenciou muitos outros gêneros brasileiros, incluindo o samba e a bossa nova.

Funk

O funk é um dos estilos musicais mais populares e influentes no Brasil atualmente, especialmente entre os jovens.

Com suas batidas contagiantes e letras que falam sobre o cotidiano das periferias, o gênero conquistou um lugar de destaque no cenário musical brasileiro, quebrando barreiras sociais e culturais ao longo dos anos.

Apesar das críticas que enfrentou no início, o funk se consolidou e hoje tem grandes representantes no Brasil, além de ser reconhecido e consumido internacionalmente.

O funk carioca surgiu nos anos 80 nas favelas do Rio de Janeiro. O estilo tem raízes no funk americano, que por sua vez, é um subgênero da música negra norte-americana, derivado do soul e do jazz, com influências do R&B e do rock.

No Brasil, no entanto, o funk carioca se distanciou do estilo original americano e começou a ser moldado com elementos próprios. Com o tempo, o funk carioca desenvolveu características como o uso de batidas mais aceleradas e letras que refletiam a realidade das favelas, abordando temas como desigualdade social, violência, amor e festas.

Um dos maiores sucessos do funk dessa época foi Rap da Felicidade, da dupla Cidinho e Doca, lançado em 1995. A música, que trazia uma mensagem contra a violência policial e as condições de vida nas favelas, se tornou um hino e ajudou a legitimar o funk como uma forma de expressão da juventude da periferia.

Seja através dos primeiros sucessos de MC Marcinho e Cidinho e Doca, ou pela explosão pop de Anitta, Ludmilla e Kevinho, o funk continua a ser uma voz importante no cenário musical e social do Brasil, unindo milhões de pessoas através da música, dança e cultura.

Rap

O rap é um estilo musical que teve sua origem no final dos anos 1970 no Bronx, Nova York, com raízes em festas de rua promovidas por imigrantes jamaicanos. Nessas festas, DJs manipulavam batidas enquanto os MCs rimavam sobre temas sociais, muitas vezes abordando pobreza e injustiças.

No Brasil, o rap começou a ganhar espaço nas periferias de São Paulo nos anos 1980. Com a coletânea Hip-Hop Cultura de Rua de 1988, nomes como Thaíde e DJ Hum despontaram como pioneiros.

Pouco tempo depois, o grupo Racionais MC’s, liderado por Mano Brown, se destacou como uma das maiores influências do rap nacional, trazendo à tona questões sociais, raciais e econômicas enfrentadas nas periferias brasileiras.

Desde então, o rap no Brasil evoluiu, incorporando diversos ritmos e ganhando visibilidade em todo o país. Artistas como Emicida, Criolo, Karol Conká e Sabotage ampliaram o alcance do gênero, abordando questões sociais e políticas, e o rap se tornou uma parte central da cultura musical brasileira.

Rock

O rock é um dos estilos musicais mais influentes e populares do século XX, que chegou ao Brasil nos anos 50 e deixou sua marca na cultura do país.

Originado nos Estados Unidos, o gênero tem raízes no rhythm and blues e na música country, sendo caracterizado por sua energia, batidas rápidas e o uso predominante de guitarras elétricas.

O rock se consolidou de vez no Brasil nos anos 80, quando várias bandas brasileiras começaram a se destacar no cenário musical.

Artistas como Roberto Carlos e Erasmo Carlos foram os primeiros a adotar o estilo, misturando o rock com a música jovem brasileira. A Jovem Guarda, movimento popular da época, marcou o início do rock no Brasil.

Nessa era, o rock nacional viveu seu auge, com o surgimento de bandas que se tornaram ícones da música brasileira, como Legião Urbana, Titãs e Barão Vermellho.

O Brasil passava por grandes mudanças políticas e sociais, e o rock foi a trilha sonora de uma juventude que ansiava por liberdade e por um novo país.

Atualmente, o rock no Brasil continua a ter uma presença forte, embora não domine mais as paradas como antes. Bandas independentes e underground mantêm o estilo vivo, enquanto bandas clássicas continuam a fazer shows e lançar novos trabalhos.

Forró

Um dos estilos musicais mais populares e representativos da cultura nordestina no Brasil, o forró tem sua origem no final do século XIX, na região Nordeste, e está fortemente ligado às tradições rurais e às festas juninas, sendo marcado por sua pegada dançante e animada.

O estilo começou a ganhar forma com a junção de ritmos e instrumentos típicos da região, como o acordeão (sanfona), a zabumba e o triângulo. As letras do forró tradicional abordam temas cotidianos, como o sertão, a vida rural, amores e dificuldades enfrentadas pelos nordestinos.

O gênero é bastante amplo, abrangendo diferentes subgêneros, cada um com suas próprias características:

  • Forró Pé de Serra: considerado o forró mais tradicional, é caracterizado pelo uso da sanfona, zabumba e triângulo. O termo “pé de serra” remete às origens rurais e simples do estilo.
  • Baião: popularizado por Luiz Gonzaga, o baião se destaca por sua batida acelerada e dançante.
  • Xote: um dos subgêneros mais lentos e românticos do forró, ideal para danças a dois.
  • Forró Eletrônico: surgido nos anos 90, esse subgênero modernizou o estilo ao incorporar instrumentos eletrônicos e uma produção musical mais pop.

Piseiro

O piseiro é um estilo musical que surgiu no Nordeste do Brasil como uma derivação do forró tradicional, trazendo influências do brega-funk, arrocha, e tecnomelody.

Inicialmente associado à simplicidade, o gênero ganhou força com o uso de sintetizadores e batidas eletrônicas que permitem uma produção mais acessível, ideal para apresentações em paredões de som — uma das principais formas de entretenimento em festas populares na região.

Apesar de ser uma vertente do forró, a batida do piseiro é mais simples e acelerada, o que o torna propício para coreografias e desafios em plataformas como o TikTok.

O gênero foi impulsionado por artistas como Nelson Nascimento, considerado um dos pioneiros do gênero, e ganhou maior projeção nacional com a ascensão dos Barões da Pisadinha, que emplacaram hits como Tá Rocheda.

Axé

O axé é um estilo musical popular que surgiu na Bahia, no início dos anos 80, como uma fusão de ritmos afro-brasileiros, samba-reggae, frevo e ritmos caribenhos.

Esse gênero está profundamente enraizado na cultura baiana e foi impulsionado principalmente pelos carnavais de Salvador, onde blocos afros e trios elétricos contribuíram para moldar sua identidade.

O gênero começou a ganhar forma no final da década de 70, mas foi oficialmente consolidado nos anos 80, quando artistas começaram a misturar estilos tradicionais da Bahia com elementos do pop e da música eletrônica.

Nos anos 90, o axé se consolidou como um dos principais estilos musicais do Brasil, especialmente por meio de artistas como Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Banda Eva, Chiclete com Banana e Asa de Águia.

Essas bandas e cantores levaram o axé para além das fronteiras baianas, fazendo com que o gênero se tornasse um fenômeno nacional.

Atualmente, o axé mantém uma presença forte, especialmente nos Carnavais do Brasil, e continua a ser um dos principais ritmos associados à música de festa. Artistas como Léo Santana e Saulo Fernandes mantêm viva a tradição do axé, adaptando o estilo para novas gerações.

Frevo

O frevo é um estilo musical genuinamente brasileiro, que surgiu em Pernambuco, mais especificamente na cidade do Recife, no final do século XIX.

Ele está intimamente ligado ao Carnaval e é uma expressão cultural rica, que une música, dança e uma forte carga histórica.

O gênero nasceu da fusão de ritmos como a polca, o maxixe e a marcha militar, em um contexto de competições entre bandas militares que tocavam nas festas populares e desfiles de Carnaval em Recife.

A dança que acompanha o frevo, com passos rápidos e acrobáticos, se desenvolveu a partir do capoeira. Os dançarinos usam uma sombrinha colorida, que originalmente servia como uma forma de proteção para os golpes da capoeira, mas que hoje é um símbolo tradicional do frevo.

Em 2012, a dança do frevo foi declarada Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO, o que reforça a importância desse estilo no cenário cultural mundial.

Nossa seleção: o Brasil brasileiro

Ai, dá até vontade de sair ouvindo tudo, né? Esses estilos são só alguns dos gêneros que fazem a nossa música ser incrível!

Foram artistas que sempre andaram lado a lado com a nossa história, movimentando a cultura, levantando discussões e botando várias gerações pra dançar.

Pensando nesses gêneros que listamos, fizemos uma seleção de canções brasileiríssimas pra curtir uma das coisas que o nosso país tem de melhor: a música. Dê play na playlist Brasil brasileiro e cante a plenos pulmões!

playlist brasil brasileiro

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